SAGRADO Acadêmico apresenta artigo de Ana Julia Toná Ruoco, da 1ª série 2, sobre a distinção entre Einstein e o relativismo moral
Educação

O projeto SAGRADO Acadêmico, do Colégio Coração de Jesus, Unidade Educacional do SAGRADO – Rede de Educação, tem como propósito valorizar o pensamento crítico, a pesquisa e a produção intelectual dos educandos, a partir de reflexões desenvolvidas em Sala de Aula com acompanhamento pedagógico e teórico.
Nesta edição, destacamos o artigo da educanda Ana Julia Toná Ruoco, da 1ª série 2, produzido nas aulas dos Componentes Curriculares de Filosofia e Cultura Religiosa, sob orientação do educador Fernando Razente. A reflexão parte de um equívoco recorrente entre o senso comum: a ideia de que a Teoria da Relatividade, formulada por Albert Einstein, validaria o relativismo moral.
Com clareza e profundidade, a educanda apresenta uma análise que distingue os campos da física e da ética, evidenciando que a relatividade científica, longe de negar verdades absolutas, reforça a existência de leis universais. Ao mesmo tempo, o texto critica as implicações filosóficas do relativismo ético, mostrando seus limites e contradições.
Confira, na íntegra, o artigo produzido pela educanda:
Relatividade Física não é Relativismo Ético
Por Ana Julia Toná Ruoco – 1ª série 2
A publicação da Teoria da Relatividade Geral por Albert Einstein, em 1915, representou uma das maiores revoluções da ciência moderna. Nessa teoria, Einstein demonstrou que a gravidade não é meramente uma força de atração entre corpos, como afirmava Newton, mas o resultado da curvatura do espaço-tempo causada pela presença de massa e energia. Essa visão transformou profundamente nossa compreensão do cosmos, dando base teórica, por exemplo, à existência de buracos negros e à expansão do universo.
Entretanto, a palavra “relatividade” acabou sendo interpretada por muitos de forma equivocada, sendo associada à ideia de que “tudo é relativo”, uma noção oriunda do campo da ética e da filosofia, e não da física.
Tal confusão levou a um erro conceitual comum: o de vincular a teoria científica de Einstein a um relativismo moral generalizado, como se o cientista estivesse negando a existência de verdades objetivas em todos os campos do conhecimento! Mas essa interpretação está equivocada, como explica Alister McGrath:
“[…] a relatividade é a ideia básica de que as leis e constantes fundamentais da física são as mesmas caso se esteja estático ou em movimento. Alguns acharam essa afirmação surpreendente, já que supõem que a relatividade tem a ver com o relativismo — a ideia de que não existem absolutos e cada um de nós pode decidir suas próprias ideias. Não foi isso que Einstein quis dizer. Na verdade, a suposição central na abordagem de Einstein à relatividade é a de que as leis da física são universalmente verdadeiras.”
(MCGRATH, 2021, p. 58)
Portanto, ao contrário do que muitos pensam, Einstein defendia que as leis da natureza são invariáveis e absolutas, mesmo em um universo dinâmico. A relatividade não nega a existência de absolutos; pelo contrário, afirma que as leis fundamentais da física permanecem as mesmas para todos os observadores, o que reforça a noção de estabilidade no campo científico.
No campo da ética e da filosofia moral, autores como Michel Foucault, propuseram perspectivas relativistas. Foucault, por exemplo, argumentou que os valores morais são construções históricas e culturais, sujeitas a jogos de poder e discurso. Esse relativismo ético sustenta que o bem e o mal são categorias subjetivas, variando conforme a cultura, o tempo e o indivíduo. Assim, práticas como o roubo ou assassinato podem ser intepretadas como perspectivas culturais legítimas, o que não é verdade.
Essa não era é a proposta da Teoria de Einstein. A relatividade geral, na verdade, demonstra que, mesmo com a variação das percepções (como o tempo fluir de maneira diferente em um satélite e na Terra), as leis que regem essas variações são constantes. Paradoxalmente, ao afirmar que “tudo é relativo”, o relativismo moral enuncia uma proposição absoluta, o que o torna autorrefutável.
Em suma, Einstein ensinou que o que varia é o ponto de vista de quem o interpreta. Essa dinâmica, embora inevitável, não deve ser confundida com a negação das verdades objetivas. A pluralidade de interpretações enriquece a compreensão, mas não apaga a existência de fundamentos universais. Por isso, é fundamental distinguir entre a relatividade física — uma teoria rigorosa e baseada em leis universais — e o relativismo moral — uma postura filosófica que defende a ausência de valores universais e permanentes.
Infelizmente, a confusão entre esses dois conceitos compromete tanto a ciência quanto a ética.
A reflexão elaborada pela educanda revela maturidade intelectual e um olhar crítico diante de conceitos amplamente debatidos, como ciência, ética e verdade. Ao estabelecer distinções claras entre a relatividade física e o relativismo moral, o artigo contribui para uma compreensão mais precisa dos limites entre o conhecimento científico e as construções filosóficas.
Este trabalho integra a série de publicações do Projeto SAGRADO Acadêmico, divulgadas semanalmente no Jornal Noroeste de Nova Esperança, reforçando o compromisso do SAGRADO - Rede de Educação com a formação de sujeitos éticos, críticos e conscientes do seu papel na construção de uma sociedade mais esclarecida e responsável.