SAGRADO Acadêmico apresenta artigo de Arthur Tonial e Felipe Zanutto, da 1ª série 1, sobre a crítica à cultura de massa no pensamento de Adorno

Educação

13 de Agosto de 2025
SAGRADO Acadêmico apresenta artigo de Arthur Tonial e Felipe Zanutto, da 1ª série 1, sobre a crítica à cultura de massa no pensamento de Adorno

O Projeto SAGRADO Acadêmico, desenvolvido pelo Colégio Coração de Jesus, Unidade Educacional do SAGRADO – Rede de Educação, visa valorizar o pensamento crítico, a produção teórica e a investigação dos educandos a partir das reflexões realizadas em Sala de Aula. 

A iniciativa tem como proposta ampliar os horizontes intelectuais, fortalecer a consciência ética e estimular o protagonismo juvenil por meio da escrita autoral, onde as produções do projeto são veiculadas semanalmente no Jornal Noroeste de Nova Esperança.

Nesta edição, os educandos Arthur Alexandre Quiamolera Tonial e Felipe Zanutto, da 1ª série 1, apresentam o artigo “Cultura, capital e crítica: o pensamento de Adorno”, orientado pelo educador Fernando Razente, no contexto dos Componentes Curriculares de História e Sociologia. O artigo analisa a crítica desenvolvida por Theodor W. Adorno à cultura de massa e à racionalidade capitalista, estabelecendo um diálogo entre sua teoria e os dilemas da sociedade atual.

Confira, na íntegra, o artigo produzido pelos educandos:
 


Relatividade Física não é Relativismo Ético

Por Arthur Alexandre Quiamolera Tonial e Felipe Zanutto – 1ª série 1

“A amargura autofágica da estética de Adorno transformou-se em pessimismo agudo.”
– MERQUIOR, José Guilherme. Arte e cultura em Marcuse, Adorno e Benjamin (1969-1981 edição original), p. 70.

Em tempos de excesso de informação e escassez de reflexão, o pensamento de Theodor W. Adorno (1903-1969) se mantém atual e provocador. Filósofo da famosa Escola de Frankfurt e sobrevivente das feridas da Segunda Guerra Mundial, Adorno se pergunta com incômodo: “Como pôde acontecer Auschwitz?”. Sua resposta é dura: a razão moderna, ao invés de libertar, foi instrumentalizada e tornou-se meio técnico a serviço da dominação, medindo tudo por sua utilidade e apagando os fins éticos. Assim, a racionalidade que deveria nos humanizar acabou por legitimar horrores em nome da eficiência econômica.

Inspirando-se em Marx (1818-1883), Adorno critica não só a exploração econômica do capitalismo, mas também sua capacidade de colonizar o imaginário coletivo. Vai além da fábrica: denuncia a indústria cultural, onde arte vira mercadoria e cultura se transforma em entretenimento vazio, anestesiando o pensamento crítico e reforçando a lógica da conformidade. Nesse modelo, até sentimentos e relações humanas são precificados, comprometendo a própria ideia de liberdade.

Adorno critica a razão moderna por ter se tornado um instrumento de controle no capitalismo, reduzindo tudo à utilidade e ao lucro. Inspirado em Marx, ele aponta como isso desumaniza o trabalhador e empobrece a cultura, anulando o pensamento crítico. O sistema prefere que as pessoas não pensem, pois assim mantém sua ordem, transformando até desejos e ideias em mercadoria.

Contudo, o pensamento de Adorno não escapa a críticas. Seu diagnóstico sobre a cultura de massa, tratada quase exclusivamente como alienante, peca por generalização e profundo pessimismo. A realidade contemporânea mostra fissuras nessa lógica. Redes sociais e produtos culturais populares, embora inseridos no sistema, também se tornam espaço de resistência, crítica social e produção de sentido. Ignorar isso é apagar a criatividade e o protagonismo que emergem ainda que nos moldes capitalistas.

Além disso, o pessimismo de Adorno, por vezes excessivo, pode imobilizar. Sua crítica, embora potente, precisa ser complementada com olhares mais abertos à complexidade da cultura contemporânea, onde opressão e resistência coexistem. Como afirma José Guilherme Merquior, a estética adorniana acabou por se tornar uma “amargura autofágica”, incapaz de ver as potências criativas do presente.

Portanto, Adorno deve ser lido como um alerta, rigoroso, incômodo e necessário, mas não como voz absoluta. Embora Adorno tenha sido um crítico agudo do capitalismo, é importante reconhecer os aspectos positivos que esse sistema econômico proporcionou ao longo da história, especialmente quando associado a instituições democráticas e ao Estado de Direito.

O capitalismo, ao promover a propriedade privada, o livre mercado e a competição, gerou níveis de prosperidade, inovação tecnológica e liberdade individual sem precedentes na história da humanidade. O capitalismo favoreceu o surgimento de uma classe média numerosa e instruída, que ampliou o acesso à educação, saúde, tecnologia e cultura. O mercado de bens culturais, ainda que criticado por Adorno, viabilizou que milhões tivessem acesso a livros, filmes, música e conhecimento antes restrito às elites.

Mesmo a crítica à mercantilização da arte e da cultura precisa ser vista com nuance. A popularização da cultura permitiu que artistas das periferias, minorias e movimentos sociais ganhassem visibilidade e voz. Hoje, projetos culturais independentes, coletivos artísticos e mídias alternativas circulam dentro do sistema capitalista, utilizando seus próprios meios de produção e distribuição. A lógica do mercado, nesse caso, não anula o valor artístico ou crítico da obra, mas pode até viabilizá-lo.

Portanto, embora as advertências de Adorno sobre alienação e massificação devam ser levadas a sério, elas não invalidam os ganhos concretos do capitalismo, especialmente quando equilibrado por instituições democráticas, ética pública e liberdade cultural.

 


 

Com profundidade teórica e argumentação crítica, o artigo assinado por Arthur Tonial e Felipe Zanutto resgata a atualidade do pensamento de Adorno, sem deixar de questioná-lo. Ao mesmo tempo em que reconhecem as advertências do filósofo sobre os riscos da massificação cultural, os educandos propõem uma leitura mais ampla e contemporânea, que considera também os espaços de resistência, criação e expressão popular que emergem mesmo dentro da lógica capitalista.

A produção integra a série de publicações do Projeto SAGRADO Acadêmico, reafirmando o compromisso do SAGRADO – Rede de Educação com uma formação que estimula a consciência crítica, a responsabilidade ética e o protagonismo dos educandos na construção de uma sociedade plural, justa e democrática.

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Matéria por Maria Isabella Rubio - Serviço de Comunicação