SAGRADO Acadêmico apresenta artigo de Giulia Teixeira da Silva e Isabella Camilotti Moreno, da 1ª série 1, sobre a tensão entre autonomia e determinismo social

Educação

18 de Agosto de 2025
SAGRADO Acadêmico apresenta artigo de Giulia Teixeira da Silva e Isabella Camilotti Moreno, da 1ª série 1, sobre a tensão entre autonomia e determinismo social

O projeto SAGRADO Acadêmico, do Colégio Coração de Jesus, Unidade Educacional do SAGRADO – Rede de Educação, tem como propósito valorizar o pensamento crítico, a pesquisa e a produção intelectual dos educandos, a partir de reflexões desenvolvidas em Sala de Aula com acompanhamento pedagógico e teórico.

Nesta edição, destacamos o artigo das educandas Giulia Teixeira da Silva e Isabella Camilotti Moreno, da 1ª série 1, que abordam o conceito de Imaginação Sociológica de Charles Wright Mills, discutindo a tensão entre autonomia individual e determinismo social, a partir de uma análise crítica sobre o papel do indivíduo na sociedade contemporânea.

Confira, na íntegra, o artigo produzido pelas educandas:


Indivíduo e Sociedade: a tensão entre autonomia e determinismo social

Por Giulia Teixeira da Silva e Isabella Camilotti Moreno – 1ª série 1

“A imaginação sociológica permite que compreendamos a história e a biografia e as relações entre as duas dentro da sociedade.”

– MILLS, C. W. A imaginação sociológica, p. 12.

A Imaginação Sociológica é um conceito formulado pelo sociólogo norte-americano Charles Wright Mills (1916–1962), professor de sociologia na Universidade de Columbia de 1946 até sua morte em 1962, que foi um dos intelectuais mais significativos nos movimentos sociais da Nova Esquerda da década de 1960. Seu conceito foi criado e difundido em sua obra clássica The Sociological Imagination, publicada em 1959.

O conceito busca descrever a capacidade de compreender a conexão entre experiências pessoais e estruturas sociais mais amplas. Segundo Mills: “O primeiro fruto desta imaginação – e o primeiro curso da disciplina que a nutre – é a ideia de que o indivíduo só pode compreender a sua própria experiência e avaliar seu próprio destino localizando-se dentro de seu período” (MILLS, 1975, p. 12).

A Imaginação Sociológica desafia o senso comum e propõe uma análise crítica da realidade. Para Mills: “A tarefa da imaginação sociológica é ajudar o indivíduo a compreender o significado de sua experiência e a avaliar seu destino mediante sua inserção no curso da história” (MILLS, 1975, p. 14). Essa perspectiva nos permite perceber que muitos problemas aparentemente individuais têm, na verdade, causas sociais. Ele explica: “Nem as vidas dos indivíduos nem a história da sociedade podem ser compreendidas sem compreender ambas” (MILLS, 1975, p. 11).

Um exemplo elucidativo seria o divórcio. À primeira vista, trata-se de uma questão privada. No entanto, quando observado sociologicamente, revela padrões sociais como transformações culturais, o papel crescente da mulher na sociedade, a flexibilização dos valores tradicionais e pressões econômicas. Por isso, a Imaginação Sociológica exige, segundo Mills, “uma postura crítica e reflexiva em relação à realidade”, na qual o sociólogo deve rejeitar tanto “a apatia cínica” quanto “o tecnocratismo estéril” (MILLS, 1975, p. 146).

Em sua crítica aos modelos sociológicos rígidos, ele afirma: “A imaginação sociológica é, antes de tudo, uma qualidade mental que os sociólogos e todos os pensadores sociais devem cultivar. Ela não pode ser substituída por nenhuma técnica ou método” (MILLS, 1975, p. 219). No entanto, a visão de Mills não escapou de críticas.

O sociólogo francês Raymond Aron (1905-1983), por exemplo, criticou as generalizações da sociologia crítica norte-americana, especialmente a tendência a supervalorizar os fatores sociais e políticos em detrimento da ação individual. Aron afirma: “A tentação de explicar tudo pelas estruturas sociais pode conduzir a uma espécie de fatalismo, onde os indivíduos são apenas marionetes de forças que não compreendem” (ARON, 1982, p. 43).

Entendemos que essa crítica é importante porque, embora a Imaginação Sociológica ofereça uma chave de leitura da realidade, ela pode levar à subestimação da responsabilidade pessoal e da capacidade de agência dos sujeitos. A consciência crítica sobre a sociedade não pode se transformar em uma desculpa para a vitimização constante ou para a abdicação moral diante das escolhas individuais.

Em resumo, a Imaginação Sociológica é uma ferramenta poderosa de análise da realidade, útil para revelar conexões entre o indivíduo e as estruturas sociais. Porém, seu uso exige equilíbrio, para não se transformar em um olhar unilateral que ignora a liberdade e a responsabilidade do sujeito.

 

Referências bibliográficas:

ARON, Raymond. As etapas do pensamento sociológico. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1982.

MILLS, C. Wright. A imaginação sociológica. Tradução de Beatriz Sidou. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1975.

 


 

A reflexão apresentada pelas educandas se destaca pela clareza argumentativa, profundidade teórica e capacidade crítica. Ao analisar a tensão entre autonomia individual e determinismo social, demonstrando sensibilidade às questões centrais da Sociologia. 

O artigo integra a série de postagens do Projeto SAGRADO Acadêmico, publicadas semanalmente no Jornal Noroeste de Nova Esperança, reafirmando o compromisso do SAGRADO – Rede de Educação com uma formação que articula conhecimento, ética e protagonismo, desenvolvendo o pensamento crítico e dando voz à produção intelectual dos educandos.

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Matéria por Maria Isabella Rubio - Serviço de Comunicação